A promotora de Justia Daniele Crema da Rocha de Souza afirmou que os trs policiais militares denunciados pela morte do tenente Carlos Henrique Scheifer, do Batalho de Operaes Especiais (Bope), mentiram desde o incio das investigaes.

Cinco anos aps o crime, so julgados nesta quinta-feira (24) o cabo Luclio Gomes Jacinto, o 3 sargento Joailton Lopes de Amorim e o soldado Werney Cavalcante Jovino.

O Ministrio Pblico Estadual (MPE) quer a condenao apenas do cabo Jacinto, que foi acusado de atirar contra o colega de farda.

Em relao aos outros dois, o MPE pediu a absolvio. O pedido foi feito nas alegaes finais, anexadas ao processo no ano ado.

A promotora afirma que o crime cometido contra Scheifer foi “covarde” e ceifou a vida de um militar cuja carreira era “promissora” no Bope.

Ainda segundo ela, o cabo Jacinto e os outros rus sempre apresentaram verses ilgicas sobre o que havia ocorrido com o tenente.

O cabo foi ouvido pela primeira vez como testemunha e em sua primeira verso relatou que Scheifer foi baleado por um desconhecido. E que, segundo a denncia do MPE, a equipe formada por Jacinto, Joailton e Jovino havia ouvido um tiro, mas no sabiam de onde vinha.

“Momento que percebeu o vulto do 2 tenente fazendo barulhos e caindo na frente da equipe bem como ainda fazia barulhos, como se estivesse afogando”, mostra o trecho da denncia.

A promotora afirma que Jacinto e os colegas mudaram de verso diversas vezes ao longo das investigaes.

No entanto, a maior mudana teria vindo do cabo, que aps a percia comprovando que o tiro que matou o tenente vinha de seu fuzil, disse que havia atirado em Scheifer por acidente.

A alegao de Jacinto, segundo o MPE, era que o cabo havia confundido o tenente com um membro do “Novo Cangao”. Relato que no bate com a narrao dos outros rus, segundo os quais o tiro veio de um lugar desconhecido.

A descoberta da percia tambm mostrou incongruncia nos relatos de Joailton e Jovino, que disseram no ter ouvido o disparo feito pelo fuzil do PM, a pouco menos de 2 metros dos militares. Situao que, segundo a percia, seria impossvel pela magnitude da arma usada no crime.

“So inmeras verses que no encontram o mnimo de lgica. [...] Todas as verses apresentadas pelos acusados se afastam muito da verdade dos fatos”, afirma a promotora.

Em novo depoimento, o MPE afirma que Jacinto alegou que mudou de verses por receio de represlias por ter matado o tenente e para defender o Bope.

Relembre o caso

Scheifer foi morto no dia 13 de maio de 2017 no Distrito de Unio do Norte, em Peixoto de Azevedo (a 691 km ao Norte de Cuiab), em meio a uma perseguio a criminosos do “Novo Cangao”.

Inicialmente, conforme o Ministrio Pblico Estadual (MPE), os colegas de farda sustentaram que a vtima havia sido atingida por disparo feito por um assaltante no identificado, que estaria na mata, do outro lado da rodovia.

Aps a realizao do laudo pericial, porm, ficou comprovado que o projtil alojado no corpo do tenente partiu de um fuzil portado pelo cabo Luclio Jacinto.

Os outros dois militares teriam colaborado para acobertar que o tiro saiu da arma do militar.

Segundo o MPE, os policiais teriam planejado a morte do tenente para ocultar o assassinato de um acusado de roubo, identificado com Marconi Souza Santos.

Segundo as investigaes, Marconi teria sido morto por Luclio durante cerco a uma casa em Matup. Scheifer teria discordado do registro de que Marconi portava arma e eles discutiram.

Luclio foi um dos ltimos a ser ouvido na ao penal. Ao juiz Marcos Faleiros, ele negou que tenha brigado com Scheifer em relao ao registro da morte de Marconi.

Ele alegou que o disparo teria sido acidental em meio tensa perseguio aos criminosos no meio da mata e com pouca visibilidade.