Agricultores do mdio-norte de Mato Grosso, maior regio produtora de soja do estado, relatam uma grande preocupao: uma anomalia tem atingido as lavouras e causado, em alguns casos, perdas de mais de 30 sacas por hectare.
O produtor Paulo Pinto de Oliveira Neto, que plantou 1.235 hectares de soja nesta safra, relata equipe do Projeto Soja Brasil a situao de seus talhes. “[A planta] comea a aprodrecer e no morre direito, no desseca direito depois, nem com fungicida. Foram feitas quatro aplicaes bem robustas com fungicidas e, mesmo assim, [a perda] foi muito severa. De 80 a 85 dias para frente, os gros comearam a apodrecer”.
Segundo ele, o ataque sever da anomalia, cuja natureza ainda incerta, atingiu cerca de 25% da propriedade em Vera, no mdio-norte de Mato Grosso. “Tnhamos expectativa em torno de 70 a 75 sacas [por hectare] at pela qualidade e sanidade da planta no incio, mas acreditamos que vamos fechar em cerca de 40 a 45 sacas. Uma lavoura com essa quantidade no paga o custo”, ressalta.
Anomalia se alastrou
Em Sorriso (MT), maior produtor de soja do pas, com mais de 600 mil hectares cultivados nesta safra, agricultores tambm relatam o mesmo problema nas lavouras. Segundo o presidente do Sindicato Rural do municpio, Silvano Felipenetto, o primeiro caso se deu h, aproximadamente, quatro anos, pontualmente em uma lavoura na comunidade do Pontal do Verde. “Aps isso, no prximo ano, ela [a anomalia] se estendeu em mais algumas propriedades. Ano ado, escutamos falar dessa doena em 30% a 35% do municpio. Teve produtores que tiveram mais e outros menos, mas este ano est geral”, relata.
O grande desafio, agora, tentar identificar os motivos da doena que tem afligido as lavouras. “Levaram para laboratrio essas plantas. Existem fungos, mas so os que j esto na natureza; no tem nada de anormal, mas isso a consequncia e ns queremos saber qual a causa”, salienta. De acordo com ele, a anomalia causa uma fissura na vagem, permitindo a entrada de gua e, consequentemente, o apodrecimento do gro.
Porm, no s isso que preocupa os produtores do estado. A quebra das hastes e o acamamento das plantas em diversos talhes tambm comprometem o desempenho. Para o agricultor Pablo Felipenetto, essa consequncia est ligada mesma anomalia. “A gente no sabe o que , se fungo ou problema fito, da prpria planta. Calculamos perdas entre 20% e 25%“, relata.
O que mais tem chamado a ateno de pesquisadores que as mesmas cultivares que esto apresentando a anomalia, se desenvolvem plenamente em outras regies do estado. “A famlia tem propriedade tambm em outra regio do estado, na regio de Diamantino, e a mesma variedade plantada aqui, l ainda no apresentou nenhum tipo de anomalia, nem aprodrecimento das vagens, nem acamamento e nem quebramento do talo”, conta Felipenetto.
Visita de especialistas
O engenheiro agrnomo e consultor Leandro Zancanaro esteve nas regies afetadas pela anomalia com tcnicos e pesquisadores da Embrapa. Ele descarta a possibilidade do problema ser originado por uma nova doena da soja e pede cautela aos agricultores quanto aplicao desnecessria de fungicidas. “No hora de o mercado tirar proveito de algo que ainda no tem o diagnstico seguro. Talvez seja algo ligado a uma doena j conhecida, mas que resolvida de outras formas”, declara.
De acordo com Zancanaro, o caminho o manejo de solo. “Cuidado para no cair na onda de usar de tudo e achar que est tudo errado. No esse o caminho”, declara.
O Projeto Soja Brasil acompanhar os desdobramentos dos casos e, medida em que novas descobertas surgirem, manter seus leitores informados.